quinta-feira, fevereiro 23, 2006

CAPÍTULO VII

Durante o duche, que me acordava pela manhã, a leveza da água que me escorria pelo corpo, relembrou-me do diário. Porque será que nunca fui capaz de ler aquele diário até ao fim?Possivelmente porque tive medo de lembrar, de recordar, de sentir como meu o que lá estava escrito, ou talvez pelo medo de não querer ler o que sentia Ana quando o escreveu. A dúvida, sempre presente, como uma força que nos prende e impede de agir.

Entretanto, com um abanar de cabeça, como que recusando continuar a ser fraco, sequei o meu corpo, atirei a toalha para o monte de roupa suja que se ia acumulando no chão do meu quarto e abri as portas do guarda-fatos. A primeira roupa que encontrei, vesti, era uma roupa desportiva, simples, algo para me sentir confortável.

Sentei-me no canto da cama. Agarrei o diário que permanecia teimosamente fechado em cima da minha mesa-de-cabeceira desde o dia em que íamos de viagem. Não o quis levar connosco porque era precioso demais e qualquer descuido seria uma perda imensa. Olhei-o com um misto de sensações a percorrerem-me o corpo. Num só momento revi toda a nossa vivência conjunta. – O que diria o diário sobre isso? A muito custo, abri o diário.

"Uma nova etapa, um novo fiel depositário de memórias!" - Começava assim aquele livro, no qual se sentia o cheiro do seu perfume, no qual se sentiam as marcas dos seus dedos, notava-se que tinha sido lido inúmeras vezes!

"Dia 6637 da minha vida (dia 17 de Outubro)

Esteve um dia lindo, onde o sol iluminava o parque como num dia de Verão, as folhas caiam com o balançar da brisa que as bamboleava.

Estava cheia de medo, sentia-me assustada, era uma experiência nova, aquelas pessoas todas trajadas, aqueles vozeirões junto dos meus ouvidos, simplesmente um olhar me deixou intrigada e ao mesmo tempo bastante inquieta. Não consigo explicar muito bem o que se passou. Quem era ou o que pode significar aquele rapaz para mim, aquele olhar absorvente, foi mágico, e deixou-me a pensar nele no momento em que o vi a virar a esquina quando foi embora. Não sei o que pensar. (…)”

- Será que essa pessoa era eu? - Perguntava-me eu passando os olhos uma linhas mais abaixo tentando descobrir a identidade dessa pessoa.

Nada mais descobri, nada mais ela tinha escrito sobre essa tal pessoa. Nem nessa, nem nas páginas seguintes. Falou das colegas, de como se sentia perdida, de como lhe estavam as correr as coisas na faculdade. Tinha ficado a saber mais agora sobre o que ela sentiu na altura, do que nos anos todos em que vivi a seu lado.

Continuei a ler todos os dias o seu livro, o livro onde ela descarregava todas as suas ideias, todas as suas vivências, todos os seus medos, todos os seus sonhos.

Li voltei a ler, cada página, como se estivesse a viver na pele de Ana o que ela estava a sentir. Tentei viver ou reviver aqueles momentos, aquelas dores, aqueles sorrisos, aquelas alegrias.

“Dia 6657 da minha vida (dia 6 de Novembro)

São 6h24min da manhã, acabei de chegar a casa, num dos dias mais importantes para mim, aquele olhar penetrante que me inquietou no dia da praxe voltou a aparecer, é um amigo da Sandra de perto de Viana, e ele tem um rosto mágico, tem um toque de anjo, tem um carinho na voz, ele chama-se Guilherme, acabei de o conhecer esta noite. É tão simpático, é tão simples, é tão charmoso. Trocamos números de telefone, trocamos ideais de vida, mas acima de tudo trocamos olhares, e que olhares. (…)”


Tinha descoberto que era eu o alvo de tal comentário. Recordei aquela noite, todas as palavras que lhe disse, todos os olhares que troquei com ela, todos os movimentos que ela fez, todas as expressões do seu rosto.

Nesse dia já era tarde, e não consegui ler mais pois tive de ir dormir. No entanto e quando cheguei do trabalho continuei a ler o livro, o seu livro, de forma tão absorvente, que quando antes lia três dias da sua vida sempre que me deitava, comecei a ler até cair de sono, dia após dia, semana após semana.

Recordei as mensagens que trocávamos, pois ela tinha-as todas transcritas para o seu diário, “partem vontades, mas ficam as saudades e nelas a certeza que uma simples distância separa abraços mas nunca separa o pensamento. Adoro-te”. Tinha esta mensagem sublinhada, com o dia em que a recebeu. Fez-me lembrar todos os momentos passados, fez-me recordar de cada tecla que premi e da incerteza que tinha de no final não conseguir carregar no “ok”.

“Dia 6702 da minha vida (dia 21 de Dezembro)

“As férias começaram, ainda hoje estive com ele e já sinto saudades do seu olhar. Inquieto-me por pensar que pode não passar de mais do que uma ilusão tudo aquilo que eu sinto, suspiro por ter me
do que isto acabe. Adoro estar com ele, desespero ao não ter a certeza do quanto ele quer estar comigo.

Não quero viver em função do seu olhar, do seu toque, da sua presença, mas não consigo evitar que me possua o pensamento. Desejo-o só para mim, queria abraça-lo, olhar fundo no seu interior, viajar pelo seu corpo e no fim entregar-me ao prazer de um atordoante beijo.

Convidou-me para sair, fê-lo no fim do jantar de aniversário da Sandra, o meu corpo tremeu quando de um modo discreto, ternurento e ao mesmo tempo intenso pegou na minha mão e, me convidou para jantarmos só os dois. Disse que tem algo importante para me dizer. O que será? A minha boca assim como todo o meu corpo disseram imediatamente que sim, não desejava eu outra coisa.”


Ao ler isto interroguei-me porque teria demorado tanto tempo para lhe dizer que a queria só para mim durante uma noite, ou durante o resto da minha vida. Lembro-me de na altura esperar um “nim”, mas como eu sempre disse, um não é certo, e arrisquei.

Possivelmente fi-lo no momento apropriado, na altura certa para perder a vergonha, e com aquele gesto recheado de incertezas quase que lhe disse o que o meu apaixonado coração sentia.

É curioso reviver todos aqueles momentos, mas colocando-me no corpo da outra pessoa. Muitas das coisas que encontrei no seu livro já não as tinha presente na minha memória. Ana, tinha capacidade de ocultar ou disfarçar aquilo que sentia e, apesar de querer ver em todos os seus movimentos, em todos os seus gestos, algo que me dissesse que ela estaria também disposta a entregar-se a mim, nunca fui capaz de o conseguir.


“Dia 6705 da minha vida ( 24 de Dezembro)

São 4:23 da manhã.

Passei o dia de ontem numa correria imensa nas compras de Natal de última hora. Andei todo o dia a pensar se haveria de comprar alguma coisa para oferecer ao Guilherme, decidi-me por fim que uma pessoa especial merece sempre algo, nem que seja um simples beijo.

A minha prima Sofia veio imediatamente ter comigo ansiosa para que lhe contasse as novidades da faculdade. Contei-lhe tudo à excepção de Guilherme. Acho que não é o momento de o partilhar com mais ninguém. Para já quero que ele seja só meu, só do meu
coração ou talvez só da minha imaginação.

Hoje o meu telemóvel não parou de tocar, ou eram mensagens ou telefonemas, mas nenhuma noticia era dele, do “Meu Guilherme”, quando me refiro a ele já só me apetece tratá-lo assim “MEU”.

Não sei o que se passa comigo, ou sei e, tenho medo de entender, de ver a realidade tal como ela é. Eu estou apaixonada, sim, eu estou apaixonada! Se não é amor, que sentimento é este que eu tenho dentro de mim, que me faz pensar nele a todo o momento? Neste instante só tenho uma certeza, tenho saudades dele, do seu olhar, do seu sorriso, da sua companhia, do seu humor, tenho saudades do seu cheiro, tenho saudades dele…”


Lembro-me bem daquelas férias de Natal, foram as primeiras férias que me pareceram intermináveis.

Ela não me saía da cabeça, tinha-me conquistado por inteiro, o meu coração, a minha cabeça, o meu respirar, toda a minha existência era em função de uma pessoa, de um rosto, de um sorriso e de um nome, Ana.

Naquela noite de Natal quando falei com ela estava muito nervoso, tinha medo de lhe ligar e nem sei porquê. Quando ela atendeu o telemóvel notei que estava ansiosa, preocupada, intrigada, e ao mesmo tempo feliz, por ter ligado. Naquele momento não dei importância, agora ao ler o seu livro entendo que há muito esperava o meu telefonema e que tal como eu sentia saudades.

“Dia 6713 da minha vida ( 1 de Janeiro )

Primeiro dia do ano!

As saudades que sinto do Guilherme são mais que muitas. Temos trocado algumas mensagens, mas não chega para tapar o vazio que a ausência dele já provoca na minha vida.

Sinto-me estranhamente feliz pelas férias estarem a terminar, finalmente vou rever o Guilherme!

O meu coração bate sempre com mais força ao imaginar o nosso encontro. O que terá ele para me dizer de tão importante? Estou ansiosa para que esse dia chegue, finalmente vamos sair os dois juntos e sozinhos. Espero que não demore muito a concretizar-se.

Sinto-me uma tonta, mas estou feliz assim.”


Ana não me saiu do pensamento na noite de passagem do ano, recordo como formulei desejos e até as 12 passas comi, não fosse a superstição dar certo. Tal como nessa noite, os dias que se precederam foram iguais, pensava na Ana vinte e quatro horas por dia e não queria pensar em mais nada, em mais ninguém, em mais nenhuma preocupação.

Assim como ela, estava ansioso para que as aulas recomeçassem e, claro, para que a conseguisse ver mais facilmente.

No primeiro dia de aulas fiz questão de ir à faculdade dela, com um pouco de sorte ia encontrá-la, abraça-la e dizer-lhe que senti de forma inconsolável a sua falta, mas foi um esforço em vão porque não a vi, ponderei telefonar-lhe, mas porque lhe queria fazer uma surpresa, preferi esperar mais algum tempo.

Liguei-lhe nessa noite, e ela disse-me que tinha ido juntamente com a Sandra, à minha faculdade para estar com o Paulo, que era o namorado da Sandra, que me tinha procurado e eu não estava lá. Sorri e disse-lhe, que “era impossível encontrares-me lá, pois eu estava na Faculdade de Direito à tua procura!”. Acabamos por combinar encontrarmo-nos no dia a seguir, para almoçarmos, como era hábito nos últimos tempos.


“Dia 6718 da minha vida (6 de Janeiro)

Vou sair com o Guilherme, não sei onde me vai levar, não sei o que vou vestir mas tenho a certeza que o que me apetecia era no fim da noite ter a minha roupa amassada no chão do quarto, acompanhada com a dele!”

Ao ler isto, simplesmente me deu vontade de rir, era mesmo uma das observações típicas de Ana, ilustrada com a sua sinceridade, com a sua honestidade e com a sua liberdade de complexos.

“Dia 6723 da minha vida (11 de Janeiro)

Passei estes dias a tentar perceber o que sinto, o que poderei escrever, o que conseguirei escrever, o que se passou, o que se está a passar comigo. Aquele jantar, aquele ambiente, aquele beijo. Foi tudo tão mágico. O Guilherme veio-me buscar a casa, entrei no carro e tinha uma simples rosa sobre o meu banco. Ele pegou nela para eu me sentar e ofereceu-ma, disse que era para me ir habituando. Fiquei sem palavras e ansiando para que tudo continuasse assim, pois ainda agora tinha começado e já tinha sido tão bom.

Levou-me até um restaurante junto ao mar, situado na cidade de Espinho, sentamo-nos numa mesa ao centro, um lugar calmo, relaxante e que parecia desenhado por um poeta de sonhos.

Falamos sobre amores, desamores, falamos sobre o que considerávamos uma vida a dois, o que devia ser uma relação e falamos finalmente sobre nós.

No fim, e antes de nos levantarmos para sair do restaurante, ele tocou-me nas mãos, pegou-me pelos dedos e, perguntou-me se queria partilhar com ele o espaço que a vida dele tinha vazio.

Permaneci em silêncio, e se não fosse estar escuro, tinha-se notado que fiquei corada, fiquei petrificada, simplesmente, fiquei sem reacção. Não respondi por palavras, levantei-me aproximei-me dele, abracei-o, senti o calor do corpo dele junto ao meu e derreti-me nos lábios dele. Foi tão bom!!!!”


Palavras para que? Não poderia ter melhor resposta, o teu beijo, foi a resposta mais doce, a mais desejada e mais esperada que alguma vez poderia esperar.
Na manhã seguinte levantei-me mais cedo que o costume, sentia-me cheio de energia, a vontade de estar contigo era tão forte que não havia sono que me amarrasse à cama.
Senti-me como um miúdo de 15 anos, queria estar no meu melhor, vesti os meus jeans preferidos, aquela camisa que me foi oferecida pela Amélia no Natal, quase entornei um frasco de perfume, excepcionalmente coloquei gel no meu cabelo, e enquanto me preparava, ouço em tom de gozo: “onde é o casamento” eram os meus colegas de casa, incrédulos com o que viam não paravam de rir. Até que o Alcino, poeta lá de casa, recitava poesias de Amor, estaria também a gozar com a minha cara?!?! Nada me importava… sei que nos próximos minutos estaria com Ana, e isso sim era o importante!

“Dia 6724 da minha vida (12 de Janeiro)

Hoje comecei o dia da melhor forma, fui ter com o meu amor logo pela manhã. Encontrámo-nos numa pastelaria perto da minha faculdade. Por todos os sítios que passávamos o rasto do perfume do Guilherme ficava... acho que exagerou um pouco. Deu-me uma enorme vontade de rir que quase não conseguia controlar, quando reparei que nas suas calças tinha a berguilha aberta, e de onde sobressaíam uns corações vermelhos num fundo branco dos seus boxers. Tão aprumadinho, mas algo lhe escapou… não tive coragem de lhe dizer que tinha os seus meandros quase à vista de quem quisesse espreitar.

Esperei ansiosamente para que as aulas terminassem, tínhamos combinado encontrar-nos no final do dia.

Começo a sentir que já não consigo passar os dias sem o ver. O desejo de estar com ele aumenta a cada minuto que passa.

A caminho de casa, senti o Guilherme mais atrevido, disse algo que não entendi… ou quis não entender. Convidei-o a entrar, estivemos um bom tempo aqui no meu quarto, deitados, um ao lado do outro ao som de uma música, e íamos trocando carícias e beijos apaixonados. Um fogo enorme se abateu sobre nós.”


Sinto uma inquietação dentro de mim, misturada com desejo, ao recordar cada um destes momentos. Naquela noite foi enorme o desejo que senti, o desejo que os nossos corpos se fundissem num só… que o amor que sentíamos fosse além daqueles olhares, daqueles, beijos, daqueles toques, que se tornasse numa louca noite de amor. Mas apesar deste enorme desejo, senti um súbito medo e não quis arriscar.
Que terá pensado Ana!? Sinto-me ansioso…….será que ela o escreveu!? A minha pulsação está cada vez mais forte, mas não consigo parar de ler.

“Dia 6724 da minha vida (13 de Janeiro)

3:16 Da manhã, não consigo dormir!
Hoje algo estranho estava entre nós... trocávamos olhares profundos como se estivéssemos a ler os pensamentos um do outro, as palavras quase não saíam. Isso incomodou-me... Será que ele se apercebeu da minha enorme vontade de me entregar!? Será que o desiludi!? “

“Dia 6731 da minha vida (20 de Janeiro)

Hoje não paro de pensar em ti, queria ter-te aqui!
O desejo de te ter é cada vez maior, até nos meus sonhos estás presente... Será normal o que estou a sentir!? Mas não paro de pensar como será fazer amor! Tenho a certeza que é a ti que me quero entregar.”

Sentia-me tão apaixonado, desejava tanto ter o teu corpo para mim, que não conseguia entender porque ficava bloqueado quando estávamos juntos mais intimamente. Era a minha primeira vez, não queria que falhasse nada, queria que fosse o momento mais especial e mais mágico das nossas vidas. Sentia que o desejo era mútuo, mas Ana era tímida, não dava o primeiro passo, e eu tinha medo que ela me interpretasse mal.

Embrenhado na leitura das nossas vidas, ouço o despertador, apercebi-me que está na hora de levantar e eu ainda nem dormi… apreço-me a preparar tudo para mais um dia de trabalho, mas saio de casa já a pensar na hora em que me vou sentar “ao lado de Ana” para reviver a nossa história.

Os miúdos já dormem… e eu já viciado neste diário abro-o e continuo.

“Dia 6731 da minha vida (20 de Janeiro)

Hoje não estive com Guilherme, amanhã vai ter exame, mas ligou-me. Estivemos uma hora e tal ao telefone, mostrou-me o quanto me desejava. Quando desliguei não sei explicar o que senti, mas onde estava, fiquei.

Deitada na minha cama fechei os olhos, e comecei a imaginar como seria estar com ele aqui.Com as pernas entreabertas comecei acariciar-me, o calor ia aumentando e a roupa subitamente desapareceu, sentia os meus mamilos a endurecerem, cada vez a ficar mais húmida. Como queria sentir-te dentro de mim…”


Sinto-me a invadir a tua privacidade! Mas não consigo parar de ler. Não estou surpreendido, e sinto uma imensa vontade de também fechar os olhos e tocar-me, e imaginar que estás aqui, tal como o fazia antes de te ter.

“Dia 6754 da minha vida (11 de Fevereiro)

Hoje fiz amor com o Guilherme! Por mais que tente é difícil descrever tudo o que senti. Foi lindo, foi maravilhoso, foi intenso.

Toda a tarde estivemos em minha casa, esteve um dia, em que não se podia andar lá fora, choveu a cântaros mas o som da chuva era a valsa que nos embalava naquele momento.

Com as almofadas espalhadas pelo quarto, com todas as velas que existiam acesas, criou-se um ambiente místico. Os beijos tornaram-se cada vez mais envolventes, os toques cada vez mais atrevidos, um arrepiozinho no estômago estava a ser constante em mim, uma sensação estranha que não me era desconhecida, mas mais forte.

Guilherme olhou-me fixamente com um ar de apaixonado e tímido ao mesmo tempo, e sem dizer nada começou-me a desabotoar a camisa que tinha vestida, ao mesmo tempo ia-me beijando cada parte do meu peito que se descobria com o abrir de um botão e depois outro e outro, e eu sem qualquer medo ou dúvida retribuía cada gesto, cada beijo, cada carícia. Comecei a tira-lhe a camisola, e quando senti o peito dele nu junto ao meu, a vontade de o abraçar e de não mais o largar era cada vez mais forte. Continuamos a enrolarmo-nos e no envolvente deste amor, toquei-o e reparei no tamanho, para mim assustador, do seu membro, e sem reflectir sequer, comentei para comigo mesma, mas em voz alta, do que seria experimentar aquilo! O que provocou uma súbita gargalhada, que nos ajudou a descontrair mas não conseguiu parar a excitação que sentíamos naquele momento.

Senti-me envergonhada quando o Guilherme me tocou ao mesmo tempo, com uma mão no seio e outra a acariciar o meu clítoris. Mas logo essa inibição desapareceu, cada vez mais me sentia solta e louca de desejo. Senti o meu corpo a arder por dentro e cada vez mais húmida, de tal forma húmida que parecia que tinha virado um balde de água quente em cima de mim.

Estava a sentir-me mulher, desejada, amada…

Colocou um preservativo, momento estranho esse, mas mais valia prevenir que depois remediar. Recomeçamos com os beijos, com os toques, e eu não percebia porquê, mas ele não parava de tremer, mas tão cuidadoso como os seus toques, penetrou-me lentamente. Agarrei-o com força, e baixinho fui-lhe dizendo ao ouvido – cuidado amor! Com uma mistura de prazer e dor deixamo-nos levar. Ele estava por cima de mim, com as mãos dele entrelaçadas nas minhas, cada vez mais me apertava com força, à medida que os nossos corpos balançavam um no outro, a minha respiração tornou-se cada vez mais ofegante, apetecia-me gritar, mas não sei se devia, mas deixei de controlar o meu corpo, tudo parou, e eu gemi com todo o prazer.

Guilherme possuído pela sensação, estava constantemente a mudar de expressões como quem estava a sofrer, mas de súbito ele também gemeu alto e caindo sobre o meu corpo, abraçou-me com toda a força, e eu percebi que ele se tinha vindo. Cansados e ainda alucinados com o momento, ficamos calados de mãos dadas por breves instantes.

Guilherme delicado com sempre, pediu desculpa pela inexperiência dele. Foi quando percebi que tanto eu quanto ele, fomos os primeiros um do outro. Mas Guilherme não tinha que pedir desculpas, foi perfeito!!! E a vontade de o fazer de novo é enorme. Amo-o e não tenho dúvidas!”

O seu diário estava repleto deste tipo de descrições e memórias, estava cheio de dúvidas e de certezas, mas estava cheio de carinhos e de amor.

Continuei a lê-lo de forma voraz, quase não conseguia dormir, era tão grande a vontade de o ler, de descobrir mais sobre Ana, pois digo que descobri mais agora sobre ela, agora que ela não está comigo, do que, quando ela estava sempre a meu lado.

O seu livro terminara de uma forma intrigante, pois dizia que “um volume passou, outro se avizinha, não sei quando terminará, mas o presente e o passado, para sempre ficará. (Volume I)”

Decidi procurar nas coisas que Ana tinha guardado desde sempre no sótão. Encontrei uma série de livros, de documentos, de folhas, de caixas, de caixotes. Num deles existiam uma série de livros todos ordenados e amarrados entre si.

Reparei que era o conjunto de todos os seus diários, começava os tinha começado a escrever até aos seus últimos dias. Nesses livros estava a sua vida, quer a profissional, quer a pessoal, tinha por hábito descrever o decorrer dos seus processos, o decorrer da sua vida, o decorrer dos seus planos e dos seus sonhos.

Começava exactamente no dia em que fazia 13 anos. E começava como sempre com a célebre frase “Dia 4748 da minha vida (dia 15 de Agosto) ”.