domingo, fevereiro 12, 2006

Capitulo IV

-Papá, nunca mais nos contaste a história da Ana!!

Foram estas as palavras que ouvi da minha filha Carolina, em tom de reclamação, quando vinha com o seu irmão depois de mais um dia de brincadeira frenética à beira mar....

Com os corpos cobertos de areia e todos transpirados os meus filhos eram, mesmo assim, os meninos mais bonitos e felizes do mundo, Deus tinha-nos dado o privilégio de ter 2 gémeos lindíssimos, Carolina com os seus enormes olhos verdes, os seus luminosos caracóis loiros e uma pele de tez muito clara, tal como um anjinho, é em tudo igual a minha amada Ana, por sua vez João também com uns enormes olhos verdes, mas o cabelo um pouco mais escuro, mais parecido com o meu, tem uma pele muito mais morena. Eu e a Ana na mais sincera das brincadeiras costumávamos dizer que, como nem os pais dela, nem os meus tinham tons de pele tão carregados, como o do João, que provavelmente e apesar de os termos visto nascer ele poderia não ser o nosso filho, e ter sido trocado na maternidade.

-Têm razão, vão tomar um banho que eu logo vos conto mais um pouco da história, imediatamente a seguir ao jantar.

E ali fiquei eu a vê-los entrar em casa de rompante como se a história não pudesse esperar nem mais um segundo. Não foram necessários nem 10 minutos, após o jantar, para termos a cozinha arrumada e estarem os dois sentados nas cadeiras de baloiço que tinham no seu quarto, com os olhos muito despertos, apesar do cansaço estampado nos seus rostos...

- Queremos o resto da história Papá.... Tu prometeste!!!

- Então, vou contar-vos mas ouçam com muita atenção.

E comecei então a recordar toda a minha história com a Ana...

“Ana, era uma rapariga de corpo delgado, que parecia esculpido por mão de ouro do melhor dos escultores, como uma obra única que cresce mesmo à nossa frente, e esta, estava a aparecer mesmo ali, como um sonho que se tornara realidade. Amedrontada, tímida, calma, era dona de um brilho especial. De cabelo claro, como um raio de sol que trespassa as nuvens num céu nublado, tinha estampado no rosto a beleza de um arco-íris. Possuía um sorriso suave como uma brisa, encantador como o som de uma flauta mágica. Com sobrancelhas finas, pestanas longas, lábios flamejantes que torturavam quem a olhasse, mesmo sendo possuidor dos mais nobres sentimentos.

Ana era linda, linda como só uns olhos apaixonados conseguiam ver, maravilhosa como um coração enlouquecido conseguia sentir, brilhante como um diamante em bruto aos olhos de um joalheiro.

Ela deixou-me estupidamente estático, com o encanto que me absorveu a partir daquele momento em que a vi.

Estava vestida de preto, com uma camisa vermelha desapertada distraidamente pelo terceiro botão. Por baixo desenhado, pelo sol do verão anterior, o contorno de um bikini ousado.

Não consegui durante todo o dia livrar-me daquela imagem provocante, não consegui, mas também não queria esquecer, queria descobrir o que ela teria para mim, o que ela teria para me dizer, queria descobrir porque é que ela aparecera na minha vida.

Então nesse mesmo dia, procurei-a pela faculdade, perdido, enlouquecido, dominado, pelo desejo de a reencontrar. Perguntei se alguém a conhecia, quem era, de onde era, que idade teria aquela pessoa que me ocupara o pensamento, aquela pessoa que me entristecera por não a ter comigo. Ninguém, absolutamente ninguém, me ajudou e me aliviou daquele sofrimento que nos atinge e nos destrói por dentro como uma faca que nos corta.

Sabia simplesmente o nome dela, Ana, nunca mais me esqueci, nunca mais me quis esquecer… mas também nunca mais me sentiria feliz se o fizesse.

Nessa mesma tarde, quase noite entrei no meu quarto exausto de tanto procurar, com o coração vazio, com as mãos cheias de nada.

Deitei-me sem jantar. Olhei as paredes vazias, demonstravam um ambiente frio, mas esperavam, tal como eu e o meu coração, que se enchessem de memórias, de projectos, de mensagens. Das paredes brancas sentia-se o cheiro da tinta, das portas o cheiro a verniz, e no meu pensamento só existia um nome, um rosto, um gesto, um perfume.”

De repente, olho para João e Carolina e como duas crianças que adormeceram na mão de um anjo, embalados pela história que lhes contava, dormiam com um ar de alegria estampado no rosto. Levantei-me, peguei neles no meu colo e coloquei-os na cama, tapei-os e despedi-me deles com um beijo, exactamente o mesmo gesto que Ana fazia todos os dias antes de ir dormir, desliguei a luz, acendi o barco luminoso que Bernardo lhes tinha oferecido, e retirei-me.

Deitei-me na minha cama, abracei a almofada onde Ana descansava seus lindos cabelos e fechei os olhos. Nesse mesmo momento uma lágrima rolou pela minha face. E, adormeci.

Pouco tempo depois ouço um barulho estranho, como um leve sussurro, abro os olhos, e vejo ao fundo da cama, com o mesmo encanto do primeiro encontro, a doce Ana.

Esfrego os olhos e ouço-a dizer, por favor não digas nada, simplesmente vamos aproveitar este momento, como o fizemos na primeira vez.

Reparo, entretanto, que a vela que eu lhe tinha oferecido no nosso primeiro encontro estava acesa junto à janela, o que fazia com que lhe realçasse ainda mais a beleza dos olhos e do cabelo.
Eu, sem saber o que fazer, o que dizer, o que sentir, levanto-me, dirijo-me a ela, e quando as suas mãos tocam o meu cabelo, sinto aquele perfume que ela usava e que sabia que me enlouquecia, e entrego-me ao calor dos seus lábios, ao sabor da sua boca, foi um beijo como nunca tinha sentido, um estranha sensação de loucura.

Ao mesmo tempo que nos beijávamos, as nossas mãos como que a redescobrir os contornos do corpo um do outro, iam tornando a roupa que nos vestia cada vez menos. Ela envergava, um vestidinho preto que eu adorava, e que eu lhe pedi vezes sem conta para ela o usar. Eu estava a dormir de pijama tapado até à cabeça, pois o frio começava a fazer-se sentir.

Deitados naquele ninho de amor, o calafrio do primeiro toque, a vergonha de nos sentirmos a ser despidos, espelhava-se nas nossas faces rosadas.

Um respirar junto ao ouvido, uma língua que passava num pescoço, as mãos que viajavam pelos dois corpos ardentes, faziam esquecer tudo o resto e simplesmente duas palavras se ouviam, ao ritmo do baloiçar da chama da vela acesa, “eu amo-te.”

Olhar novamente os olhos de Ana, fazia-me acreditar que a felicidade existe, que a beleza de uma pessoa não está só no que aparenta ser, está naquilo que conseguimos ver muito além da realidade. Os seus olhos verdes como um relvado diziam-me para lutar e continuar a amar.

O desejo aumentava e a roupa desaparecia, a beleza do lindo corpo de Ana era cada vez mais realçado pela escassa luz da vela aromatizada que tornava o ambiente cada vez mais envolvente.

Os seus belos seios estavam de volta, Ana sabia que ficava louco de paixão ao senti-los esmagados contra o meu peito, a vontade de os beijar, de os trincar estava a tornar-se incontrolável.

A audácia que Ana sempre teve, estava de volta, e cada vez mais me sentia louco de paixão com o leve toque dos seus cabelos a percorrer todo o meu corpo, acompanhado pelo deslizar das suas unhas sobre as minhas costas e ao mesmo tempo que me acariciavam, me feriam e provocavam-me gritos de desejo.

Novamente tive a plena noção que a mulher que estava ali comigo, que ia gemendo cada vez mais de prazer era a mulher da minha vida, a mulher que eu escolhi para amar por completo, não tinha só a alma de Ana tinha o seu corpo, tinha-a completa ali naquela noite de amor, sexo, prazer que nos estava a levar à loucura.

Os nossos corpos já sem roupa, molhada pelos suores de desejo, húmidos com o calor da paixão, desfrutavam da saudade que nos consumia.

Sentir o meu corpo e o dela como um só, enlouquecia-me, aos poucos íamos sentindo os nossos corpos a tremerem de exaustão, a explosão de amor e prazer emanava por todos os poros do nosso corpo e foi então, que ao atingir o clímax a abracei com toda a minha força, puxando o seu corpo para mim, não conseguindo controlar um súbito desejo de dizer tudo o que sentia, era um desejo que me vinha da alma, do corpo, bem do fundo do meu ser… e gritei…

Amo-te, é tão bom ter-te de volta!

Foi com esse grito que ecoava, que me deparei que tudo não tinha novamente passado de um sonho, abri os olhos e apenas eu e a almofada de Ana estávamos ali…